A minha colega Claudia postou o texto abaixo no fórum Auto Champion Models e achei muito bom então resolvi posta-lo aqui também. Parabéns ao autor, Ariel, pelo belo texto.
Autor - Ariel - Memórias Postumas
No contato dia-a-dia com modelistas, fregueses e o público em geral, tenho observado e aprendido inúmeras curiosidades sobre o Modelismo. Digo curiosidades porque não deveria ser como é encarada a sua prática nas diversas modalidades. Tenho escutado: “Aeromodelismo é para uma elite abastada!”; “Ferreomodelismo é para aposentado!”; “Plastimodelismo é para criança!”; “Nautimodelismo é para marinheiro!”; “Fosforomodelismo é para presidiário!” ... Isto sem contar que para muitas pessoas essas e as demais áreas do Modelismo são consideradas “brinquedo”.
Conheço médicos, engenheiros, jogadores de futebol, cobradores de ônibus, arquitetos, industriais, superintendentes de órgãos federais e funcionários de empresas estatais, bancários, encanadores, pilotos, juiz estadual, motorista de táxi, açougueiros, dentistas, militares, professores de diversos graus (e tenho conhecimento de que Ministro de Estado) dentre tantas outras atividades, independente de poder aquisitivo, categoria profissional, condição social ou grau de estudo, que são aeromodelistas, plastimodelistas, ferreomodelistas, nautimodelistas, dioramistas, fosforomodelistas, miniaturistas e outros. Esta é a razão da afirmação-título de que MODELISMO NÃO TEM CLASSE SOCIAL.
A criança tem um comportamento que ao atingir a idade adulta deixa de lado, seja pelos afazeres profissionais ou por deboche de amigos, parentes e colegas de trabalho. Refiro-me ao jogo de bola de gude (bolinha de vidro), pião, patinete, pipa/papagaio, moldagem de peças de barro, brinquedos delata e de madeira ou papelão, peteca, diávolo, figurinhas, boneca, casinha e toda a gama de brinquedos prontos ou adquiridos em lojas, nos quais a criança alterna esses brinquedos em ciclos, ou seja, a criança troca de brinquedo para não “enjoar”. Quando cresce ou perde esta inconstância e parte para uma atividade mais ou menos fixa, séria, “de homem”, de responsável, “de gente grande”, ou então: “Agora sou casada”. E essa mudança de comportamento embota e necessidade do adulto por vergonha, por responsabilidades profissionais e familiares e por repreensões dos pais ou amigos. O homem/mulher deixa de continuar a ser criança por força dessas e tantas outras interferências. Conheço modelistas que possuem seus modelos escondidos, guardados e sem divulgação porque sabem que ao mostrar a alguém será chamado de “criança”, “dessa idade brincando de trenzinho?!”, “não teve infância?”, etc. Ora, o Modelismo pode até ser uma frustração por não se possuir o objeto real (Freud explicava!). Ter um modelo de avião pode significar não ter podido ser piloto; ter um barco ou uma caravela em miniatura, por não ter conseguido seguir uma carreira náutica ou não ter singrado os mares; ou mesmo engenheiros e guarda-chaves ferroviários porque estiveram anos de suas vidas junto a uma estrada-de-ferro ou construindo pontes e viadutos. O médico, o nervoso, o acamado, como terapia; o professor para melhor ilustrar sua aula; o mecânico para aperfeiçoar sua técnica.
Quem não gosta de ver uma miniatura? Assim, alguns exemplos surgem como: “Que bonitinho!” ao ver um filhote de urubu - que é branco; “Que coisinha!” quando visitam uma pocilga com porquinhos novos. E o que pode dizer-se de uma criança fofinha, rosada, tenra? Estes são alguns exemplos de que seres pequenos chamam a nossa atenção. E são brinquedos? (Embora alguns presenteiem seus filhos com cachorrinhos com essa intenção).
Com a idade de 10 a 16 anos, própria para o início do Modelismo, a criança “vê” o “seu” futuro profissional. Com a montagem de seu modelo e as conseqüentes leituras sobre o que escolheu para montar, muitas vezes tem essa dedicação interrompida pela incompreensão dos pais ou responsáveis. A justificativa é de que o Modelismo atrapalha os estudos, ou que já está em idade para pensar em algo sério, ou que a “idade do brinquedo” já está passando. Ora, o Modelismo é uma atividade que impulsiona ao estudo daquilo que o jovem aprecia, complementa seus estudos curriculares e é um preparo para o seu futuro profissional. Prova disto? É só perguntar a qualquer piloto, astronauta, engenheiro ...
No Centro Politécnico do Paraná, em Curitiba, construiu-se a miniatura da represa de Itaipu para estudos preliminares da resistência, força da água, etc. Será que engenheiros, técnicos e operários construíram um brinquedo? E os edifícios, os aviões, os navios, saíram direto da planta para o seu real tamanho? Quantos estudos preliminares, cálculos de resistência, peso, aerodinâmica, tubo-de-vento e mesmo a demonstração para a venda de um edifício, são necessários?
Vamos tirar de nosso pensamento que o Modelismo é para uma elite. Vamos separar o brinquedo da miniatura/modelo. Vamos procurar entender o que é Modelismo e suas variações, e procurar transmitir conhecimentos e orientar os gozadores. Vamos sair da clausura assumindo a condição de modelista em vez de dizer que é para o filho, sobrinho ou afilhado. Vamos respeitar o modelista e seu trabalho.
Ser modelista é esclarecer, mostrar e divulgar a sua obra, porque só assim os nossos filhos terão outro modo de pensar, nossos alunos também e nossos empresários destinarão parte de suas máquinas para o Modelismo. Talvez a própria lei venha ser alterada em sua classificação como “brinquedo”, ou então, um artigo supérfluo, mas passe a considerá-lo como material didático. Com menores custos e maior divulgação o Modelismo serve para a base de profissionais e um maior conhecimento daquilo a que se dedicam e com pessoas mais interligadas por um trabalho comum, em vez do isolamento, do esnobismo ou da demonstração de sua capacidade aquisitiva ou de sua condição social.
O modelista não tem porque exibir título escolar nem classe social. Deve apenas mostrar sua capacidade através de sua habilidade pessoal e sua obra em miniatura.
Ariel Schneider
[]s...
Maciel L. Zang
Autor - Ariel - Memórias Postumas
No contato dia-a-dia com modelistas, fregueses e o público em geral, tenho observado e aprendido inúmeras curiosidades sobre o Modelismo. Digo curiosidades porque não deveria ser como é encarada a sua prática nas diversas modalidades. Tenho escutado: “Aeromodelismo é para uma elite abastada!”; “Ferreomodelismo é para aposentado!”; “Plastimodelismo é para criança!”; “Nautimodelismo é para marinheiro!”; “Fosforomodelismo é para presidiário!” ... Isto sem contar que para muitas pessoas essas e as demais áreas do Modelismo são consideradas “brinquedo”.
Conheço médicos, engenheiros, jogadores de futebol, cobradores de ônibus, arquitetos, industriais, superintendentes de órgãos federais e funcionários de empresas estatais, bancários, encanadores, pilotos, juiz estadual, motorista de táxi, açougueiros, dentistas, militares, professores de diversos graus (e tenho conhecimento de que Ministro de Estado) dentre tantas outras atividades, independente de poder aquisitivo, categoria profissional, condição social ou grau de estudo, que são aeromodelistas, plastimodelistas, ferreomodelistas, nautimodelistas, dioramistas, fosforomodelistas, miniaturistas e outros. Esta é a razão da afirmação-título de que MODELISMO NÃO TEM CLASSE SOCIAL.
A criança tem um comportamento que ao atingir a idade adulta deixa de lado, seja pelos afazeres profissionais ou por deboche de amigos, parentes e colegas de trabalho. Refiro-me ao jogo de bola de gude (bolinha de vidro), pião, patinete, pipa/papagaio, moldagem de peças de barro, brinquedos delata e de madeira ou papelão, peteca, diávolo, figurinhas, boneca, casinha e toda a gama de brinquedos prontos ou adquiridos em lojas, nos quais a criança alterna esses brinquedos em ciclos, ou seja, a criança troca de brinquedo para não “enjoar”. Quando cresce ou perde esta inconstância e parte para uma atividade mais ou menos fixa, séria, “de homem”, de responsável, “de gente grande”, ou então: “Agora sou casada”. E essa mudança de comportamento embota e necessidade do adulto por vergonha, por responsabilidades profissionais e familiares e por repreensões dos pais ou amigos. O homem/mulher deixa de continuar a ser criança por força dessas e tantas outras interferências. Conheço modelistas que possuem seus modelos escondidos, guardados e sem divulgação porque sabem que ao mostrar a alguém será chamado de “criança”, “dessa idade brincando de trenzinho?!”, “não teve infância?”, etc. Ora, o Modelismo pode até ser uma frustração por não se possuir o objeto real (Freud explicava!). Ter um modelo de avião pode significar não ter podido ser piloto; ter um barco ou uma caravela em miniatura, por não ter conseguido seguir uma carreira náutica ou não ter singrado os mares; ou mesmo engenheiros e guarda-chaves ferroviários porque estiveram anos de suas vidas junto a uma estrada-de-ferro ou construindo pontes e viadutos. O médico, o nervoso, o acamado, como terapia; o professor para melhor ilustrar sua aula; o mecânico para aperfeiçoar sua técnica.
Quem não gosta de ver uma miniatura? Assim, alguns exemplos surgem como: “Que bonitinho!” ao ver um filhote de urubu - que é branco; “Que coisinha!” quando visitam uma pocilga com porquinhos novos. E o que pode dizer-se de uma criança fofinha, rosada, tenra? Estes são alguns exemplos de que seres pequenos chamam a nossa atenção. E são brinquedos? (Embora alguns presenteiem seus filhos com cachorrinhos com essa intenção).
Com a idade de 10 a 16 anos, própria para o início do Modelismo, a criança “vê” o “seu” futuro profissional. Com a montagem de seu modelo e as conseqüentes leituras sobre o que escolheu para montar, muitas vezes tem essa dedicação interrompida pela incompreensão dos pais ou responsáveis. A justificativa é de que o Modelismo atrapalha os estudos, ou que já está em idade para pensar em algo sério, ou que a “idade do brinquedo” já está passando. Ora, o Modelismo é uma atividade que impulsiona ao estudo daquilo que o jovem aprecia, complementa seus estudos curriculares e é um preparo para o seu futuro profissional. Prova disto? É só perguntar a qualquer piloto, astronauta, engenheiro ...
No Centro Politécnico do Paraná, em Curitiba, construiu-se a miniatura da represa de Itaipu para estudos preliminares da resistência, força da água, etc. Será que engenheiros, técnicos e operários construíram um brinquedo? E os edifícios, os aviões, os navios, saíram direto da planta para o seu real tamanho? Quantos estudos preliminares, cálculos de resistência, peso, aerodinâmica, tubo-de-vento e mesmo a demonstração para a venda de um edifício, são necessários?
Vamos tirar de nosso pensamento que o Modelismo é para uma elite. Vamos separar o brinquedo da miniatura/modelo. Vamos procurar entender o que é Modelismo e suas variações, e procurar transmitir conhecimentos e orientar os gozadores. Vamos sair da clausura assumindo a condição de modelista em vez de dizer que é para o filho, sobrinho ou afilhado. Vamos respeitar o modelista e seu trabalho.
Ser modelista é esclarecer, mostrar e divulgar a sua obra, porque só assim os nossos filhos terão outro modo de pensar, nossos alunos também e nossos empresários destinarão parte de suas máquinas para o Modelismo. Talvez a própria lei venha ser alterada em sua classificação como “brinquedo”, ou então, um artigo supérfluo, mas passe a considerá-lo como material didático. Com menores custos e maior divulgação o Modelismo serve para a base de profissionais e um maior conhecimento daquilo a que se dedicam e com pessoas mais interligadas por um trabalho comum, em vez do isolamento, do esnobismo ou da demonstração de sua capacidade aquisitiva ou de sua condição social.
O modelista não tem porque exibir título escolar nem classe social. Deve apenas mostrar sua capacidade através de sua habilidade pessoal e sua obra em miniatura.
Ariel Schneider
[]s...
Maciel L. Zang
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